quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sobre sandálias, cavalos e Marketing Religioso



 
Há poucos dias, um pastor amigo me fez a seguinte pergunta: Como você avalia o Marketing da nossa igreja? A resposta compartilho com você, leitor/a do Compartilhar Pastoral.


O Marketing oferece uma série de ferramentas e estratégias que vão muito além da comunicação. Uma das ferramentas mais básicas, e a mais importante, é a definição do negócio da instituição. Quando se determina o negócio de forma clara e objetiva, sabe-se, com precisão, qual é a área-fim, que merece todos os esforços, e as áreas-meio, que só existem para assegurar o bom andamento da área-fim.

Quando esse conceito teórico de autores como Kotler (2005) e Las Casas (2010) é adaptado para a igreja, podemos afirmar que salvar vidas é o nosso “negócio? , a área-fim, ou seja, a nossa missão. A frase “vocês não têm nada a fazer, senão salvar almas?  de John Wesley, utilizada como tema do Dia do/a Pastor/a Metodista de 2011, reforça a
concepção de que o nosso foco é a prospecção; e a manutenção da nossa missão está baseada em transformar os “pescados” (as pessoas alcançadas) em “pescadores”, ou, na linguagem bíblica, converter os ceifados em ceifeiros.

Temos que aprender com esse princípio básico que se deve investir tudo o que temos e somos na nossa missão, naquilo que é o nosso principal foco. Dois exemplos mostram um pouco do que é ter foco...

Em uma conversa com um dos meus alunos do Curso de Graduação em Marketing, que é gerente comercial, fiquei sabendo que os vendedores de sua empresa ganham o dobro do salário dele. Perguntei se ele não achava isso errado, ele respondeu “eu quero que ele ganhe três vezes mais que eu, pois também serão triplicadas as vendas e nós vivemos de vendas”, ou seja, foco no negócio é valorizar as pessoas diretamente   responsáveis pela atividade-chave.

Outro dia procurei o gerente de uma loja de roupas para fazer uma reclamação e fui levado até um homem que estava descarregando um caminhão, quando percebeu que estranhei a situação, ele falou: “todos os meus funcionários estão vendendo e só sobrou eu para ajudar a descarregar as roupas e, sem roupa exposta, não vendo”. Da última vez que fui à loja, ele estava no caixa. Este exemplo do mundo corporativo nos mostra que o foco no negócio é função de todos/as, principalmente dos/as líderes, que devem ensinar pelo exemplo.

A grande questão é que muitas vezes tira-se o foco da área-fim e valoriza-se mais as áreas-meio. Quando os jovens não saem para evangelizar porque o único dia livre da semana é usado para o ensaio do louvor, quando não se faz uma visita porque é horário do grupo de mulheres, quando colocamos o irmão de maior conhecimento bíblico para tomar conta do setor financeiro ou gastamos mais tempo com a administração do que com o cuidar de pessoas, estamos dizendo que todos esses trabalhos são mais importantes que salvar vidas. Na prática, a igreja foca-se na estrutura (área-meio) e não em salvar vidas (área-fim).

As estratégias de Marketing para a igreja são eficazes somente se estiverem focadas na área-fim: em salvar vidas. Do contrário, podemos centrar os esforços em outras ações e deixar o fundamental para segundo plano. Seria o mesmo que dizer que o grande diferencial de Wesley era o seu cavalo, que o levava para todos os locais, ou dizer que o ministério missionário de Paulo foi baseado em suas sandálias, que permitiam que ele caminhasse por todo mundo antigo. O grande diferencial desses homens era o foco na missão, as ferramentas utilizadas eram apenas o complemento.

Assim, a primeira lição que o Marketing nos deixa é que devemos focar todos os nossos esforços na missão de salvar vidas. Quando todos/as estiverem focados/as em cuidar de pessoas, quando evangelizar for a única coisa que a igreja tiver para fazer e os/as evangelizadores/as (clérigos/as ou leigos/as) forem as pessoas mais valorizadas em nossas igrejas, todas as ferramentas (louvor, oração, grupos societários, ministérios etc) e estratégias (marketing, administração, planejamento etc) servirão de apoio para a obra do Senhor, por meio de nossas mãos e talentos.

Luís Augusto Mendes é doutorando em Psicologia Social (UFPB),
com foco em Comportamento do Consumidor, professor
universitário das áreas de Administração e Marketing.
E-mail: luisaugustomendes@gmail.com

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